segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O Legado de Nhô Filili

Título original: O Legado de Nhô Filili
Género: Romance
Autor: Luís Urgais
Ano: 2012

Sinopse: Filho de minhotos, João Bento Rodrigues - que ficaria conhecido por Filili - nasceu na ilha do Fogo no ano da abolição da escravatura. O decreto não bastou, porém, para que se extinguisse o tráfico, até porque os negreiros tinham a cumplicidade das autoridades; e foi assim que Maguika, capturada nas matas da Guiné, se tornou propriedade de Nhô Filili, trazida por um negociante desejoso de, com presentes, o conquistar para genro.
Contudo, assim que pôs os olhos na negrinha, João Bento Rodrigues já não voltou a olhar para outra mulher, afrontando a elite da capital ao entrar na igreja de braço dado com a escrava e, mais tarde, unindo-se a ela pelo santo matrimónio, desafiando preconceitos e convenções. Mas, se é verdade que as pretendentes não gostaram de se saber preteridas, quem mais sofreu foi Leila, a concubina com quem Filili mantinha laços íntimos e que, de repente, se viu sozinha na Cidade Velha com um segredo. O passado tem, no entanto, maneiras de regressar quando menos se espera. E, às vezes, ainda bem.
Tendo por cenário o arquipélago de Cabo Verde entre a segunda metade do século xix e a primeira do século xx, O Legado de Nhô Filili é o retrato de uma África bela e sedutora, mas também dura e miserável, e bem assim uma metáfora da história da mestiçagem biológica e cultural e da génese dos movimentos pela independência das Colónias (in Wook)

Nasceu na ilha do Vulcão no ano em que foi decretado o fim da escravatura. Filho de portugueses, João Bento Rodrigues ou Nhô Filili, recebeu Maquika, uma escrava acabada de chegar da Guiné, como presente de um negociante disposto a fazer todas as vontades ao homem que queria ver casado com a sua adorada filha. O tiro saiu-lhe  pela culatra.
A relação que começou por ser de senhor e escrava, cedo se transforma no romance do momento, abalando os alicerces da sociedade e os bons costumes da altura. Um amor condenado à nascença devido aos desígnios daqueles que achavam que brancos e pretos não se deviam misturar.

Filili era, porventura, o homem de pele mais clara do arquipélago de Cabo-Verde e Guida uma das negras mais escurinhas. Mas, num rolar de corpos, ter-se-ão, de tal modo, misturado um com o outro que ficou sem se saber, exactamente, onde começaria o branco dele e acabaria o negro dela.
(extracto retirado da pág. 73)

Entrei na Fnac, vi o livro e o título chamou-me a atenção. Não sendo um nome comum, lembrei-me que perto da casa dos meus pais vive um senhor chamado Filili. Peguei no livro e li a sinopse. Escravatura e Cabo-Verde. Uma mistura vencedora.

Luís Urgais escreve sobre a história de amor de Maguika, uma escrava, e Filili, um senhor, um amor que tem todos os ingredientes para ser impossível. Apesar de tecnicamente já não existirem escravos, na prática, a coisa era bem diferente. A sociedade nunca iria aceitar a ideia de ver uma negra nos braços de um senhor.
Para além do romance, o autor também mostra a perspectiva dos filhos que, como mulatos, se encontram num limbo social e mostra como cada um deles reage às adversidades causadas pelo amor dos país. Afinal, era do conhecimento geral que os mulatos eram filhos ilegítimos nascidos de relações entre senhores e escravas e nunca frutos de um amor "legalizado".

A escrita é simples e muito acessível. O enredo está bem construído e a história fluí de forma agradável e surpreendente. Como aspecto negativo, tenho a apontar o facto do autor ter "mexido" com um dos aspectos mais sagrados de um natural da ilha do Fogo: a nossa pronúncia tão característica e que nos deferencia das demais ilhas (gostava de ter lido os meninos de Chã das Caldeiras a falarem com o Nhô Filili usando o sotaque da ilha do Fogo).

Para quem conhece Cabo-Verde e a sua história sobre escravatura e não só, que é o meu caso, a obra acaba por não acrescentar nada de novo, mas, na minha opnião, é uma boa leitura para quem quer conhecer melhor as ilhas, as suas histórias e pessoas.
(3/5)

2 Comentário(s):

Pretty in Pink 1:39 da manhã, outubro 09, 2012  

Parece-me mesmo daquele tipo de livro que eu ia gostar de ler :)

Beijinho*

Mary 1:16 da tarde, outubro 09, 2012  

Pretty in Pink, força com isso e o livro nem sequer é caro. Se não me engano, custou menos de 13€.

Obrigada pela visita!

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