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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Os Inocentes

Título original: The Innocent
Género: Romance
Autor: David Baldacci
Ano: 2012

Sinopse: Os Inocentes é um livro viciante — tem cenas repletas de ação, personagens dinâmicas e complexas e a dose certa de sedução e mistério — que, no final, vai deixar o leitor a questionar os seus próprios valores.
Esta é a história de uma amizade que luta pela sobrevivência numa conspiração que atinge as grandes esferas do poder. Ao longo destas páginas encontramos um assassino com uma missão especial e uma jovem em fuga cuja sobrevivência depende da cooperação entre ambos.(in Wook)

Julie agarrou o telemóvel, virou-lhe as costas e afastou-se pelo corredor. Robie ouviu a porta do quarto a fechar-se atrás dela. Activou o alarme, trancou a porta atrás de si e foi-se embora.
Robie estava furioso.
Estava a ser manipulado por alguém. Sabia isso.
Só não sabia por quem.
(extracto retirado da pág. 152)

O enredo e o desfecho da história. Não tendo sido uma história extraordinária, o autor conseguiu criar e manter alguns momentos de suspense, intrigas e reviravoltas interessantes. Não se entusiasmem muito com as cenas de acção, sedução (principalmente estas) e mistério prometidas pela sinopse porque ficam um bocado aquém do desejado.

A escrita. Nada de especial, é mais um daqueles livros light que se consegue ler sem olhar para trás. Não simpatizei com alguns dos personagens e não consegui "acreditar" na relação dos personagens principais, Julie e Robie.

Na minha opinião, esta obra de David Baldacci pertence à estante de livros em que não se perde nada em não lê-los.
(2/5)

quinta-feira, 16 de maio de 2013

As Luzes de Leonor

Título original: As Luzes de Leonor
Género: Romance
Autor: Maria Teresa Horta
Ano: 2012

Sinopse: Um romance sinfónico sobre a Marquesa de Alorna, Leonor de Almeida Portugal, neta dos Marqueses de Távora, uma figura feminina ímpar na história literária e política de Portugal. A grande escritora Maria Teresa Horta, persegue-a e vigia-a nos momentos mais íntimos, atraída pela desmesura de Leonor, no seu permanente conflito entre a razão e a emoção. Acompanha-a no voo de uma paixão, que seduz os espíritos mais cultos da época, o chamado "século das luzes", e abre as portas ao romantismo em Portugal.
Um maravilhoso e apaixonante romance sobre a extraordinária e aventurosa vida da Marquesa de Alorna. (in Wook)

A minha determinação no sentido de não aceitar as ordens de meu Pai, que me queria casar com quem eu não gostava, salvou-me de ser uma mulher infeliz para o resto da vida como aconteceu com Maria.
Firmeza mantida por mim com especial afinco, e que desde sempre causou raiva e surpresa a quem pretendeu controlar-me o passo, conduzir-me as ideias, dominar-me a vontade, submeter-me o pensamento. Na tentativa de me governarem tanto os sentimentos como a razão.
(extracto retirado da pág. 170)

A escrita. Ao longo de mais de um milhar de páginas, Maria Teresa Horta, usando de uma escrita poética, leva os leitores a conhecer a vida de Leonor, num percurso que começa quando é presa com a mãe e a irmã Maria no convento de Chelas, passando pelos dias de rebeldias durante a juventude, pelas aventuras pela Europa, o casamento e os filhos, o regresso a Portugal e os seus dias de viúvez. A personalidade, a forma de pensar, o modo de vida e os trejeitos de Leonor são esmiúçados ao longo do livro, em descrições que não deixam esconder a admiração/paixão avassaladora da autora pela Marqueza de Alorna.

As repetições. A meu ver, são a principal razão do exagerado número de páginas. Nas primeiras páginas o leitor já tem o perfil de Leonor traçado. No entanto, ao longo do livro, a autora não perde uma oportunidade de voltar a dedicar parágrafos realçando este ou aquele aspecto da vida de Leonor, tornando a leitura repetitiva, maçadora e com pouco conteúdo. Fica-se com a sensação de releitura.

Um passeio pela História portuguesa.

Sugerida pela sogra, esta leitura deixou-me com curiosidade de experimentar outro livro da Maria Teresa Horta e assim poder para tirar as dúvidas criadas pela presente obra.
(3/5)

terça-feira, 7 de maio de 2013

Peito Grande, Ancas Largas

Título original: 丰乳肥臀
Género: Romance
Autor: Mo Yan
Ano: 1996

Sinopse: O presente romance, publicado na China em 1995, causou grande controvérsia. Algum conteúdo de teor sexual e o facto de não retratar uma versão da luta de classes consentânea com os cânones do Partido Comunista Chinês, obrigaram Mo Yan a escrever uma autocrítica ao seu próprio livro, e, mais tarde, a retirá-lo de circulação. Ainda assim, inúmeros exemplares continuam a circular clandestinamente.Num país onde os homens dominam, este é um romance épico sobre as mulheres. Sugerido no próprio título, o corpo feminino serve como imagem e metáfora ao livro. A protagonista nasce em 1900 e casa-se com 17 anos. Mãe de 9 filhos, apenas o mais novo, é rapaz. Jintong é inseguro e fraco, contrastando com as 8 irmãs, fortes e corajosas. Cada um dos 6 capítulos representa um período, desde o fim da dinastia Qing, passando pela invasão japonesa, à guerra civil, à revolução cultural e aos anos pós Mao. Um romance que percorre e retrata a China do último século através da vida de uma família em que os seres verdadeiramente fortes e corajosos são as mulheres. (in Wook)

A minha segunda irmã afastou então as pernas, dobrou-se pela cintura, e largou a correr, descrevendo um círculo completo. Os seus membros eram flexíveis como o ramo do salgueiro, os seus passos serpentes ondulando entre espigas finas. Era uma noite sem vento e, porém de um frio penetrante, mas a minha irmã trazia apenas roupa fresca. A mãe olhava pasmada; o corpo da minha irmã desenvolvera-se depressa depois de ela comer a enguia; tinha os seios como duas pêras, graciosamente torneados, e viria a perpetuar, sem dúvida, a tradição gloriosa das mulheres Shangguan, todas com peito grande e anca larga.
(extracto retirado da pág. 163)

A principal dificuldade desta leitura está relacionada com os nomes dos personagens. Durante a leitura de um qualquer livro, sigo um processo de conhecimento e reconhecimento dos personagens: dou-lhes uma cara e um corpo, com base nos seus nomes. No caso desta leitura, em que os personagens têm todos nomes chineses, muito parecidos uns com os outros, foi muito complicado seguir o processo normal e assim poder seguir a história de cada um dos personagens. É certo que os principais e mais mencionados acabam por ficar-nos na memória, mas os outros integrantes acabaram por passar um bocado ao lado, prejudicando a compreensão dos seus papeis na história.

O enredo conta a história de uma família chinesa, onde as mulheres são os pilares e as principais responsáveis pela dinâmica familiar e o bom funcionamento do lar, tendo como pano de fundo tempos de guerras, sofrimento, tradições ancestrais, mas onde também não faltam sentimentos como amor, sexo, lealdade e valentia.
Em casa dos Shangguan, vive a matriarca e os seus 9 filhos: 8 mulheres e um rapaz. A longo da história, outros personagens vão interagindo com a família, na forma de maridos, amantes ou pretendentes, heróis de guerra ou vilões.

Um livro que deixou-me com vontade de ler outra obra de Mo Yan.
(3/5)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O Aroma das Especiarias

Título original: Peaches for Monsieur le Curé
Género: Romance
Autor: Joanne Harris
Ano: 2012

Sinopse: Vianne Rocher recebe uma estranha carta. A mão do destino parece estar a empurrá-la de volta a Lansquenet-sur-Tannes, a aldeia de Chocolate, onde decidira nunca mais voltar. Passaram já 8 anos mas as memórias da sua mágica chocolataria La Céleste Praline são ainda intensas.
A viver tranquilamente em Paris com o seu grande amor, Roux, e as duas filhas, Vianne quebra a promessa que fizera a si própria e decide visitar a aldeia no Sul de França. À primeira vista, tudo parece igual. As ruas de calçada, as pequenas lojas e casinhas pitorescas… Mas Vianne pressente que algo se agita por detrás daquela aparente serenidade. O ar está impregnado dos aromas exóticos das especiarias e do chá de menta.
Mulheres vestidas de negro passam fugazes nas vielas. Os ventos do Ramadão trouxeram consigo uma comunidade muçulmana e, com ela, a tão temida mudança. Mas é com a chegada de uma misteriosa mulher, velada e acompanhada pela filha, que as tensões no seio da pequena comunidade aumentam. E Vianne percebe que a sua estadia não vai ser tão curta quanto pensava. A sua magia é mais necessária do que nunca! (in Wook)

Em Paris, Vianne Rocher vive dias de calmaria e tranquilidade ao lado do marido Roux e das filhas Anouk e Rosette, mas esta situação está prestes a mudar devido à sua ligação a Lansquenet-sur-Tannes e a Armande. Quando Vienne recebe uma carta da já desaparecida amiga, a chocolateira não pensa duas vezes e parte, fazendo-se acompanhar pelas filhas, para uma curta visita ao lugar onde viveu alguns dos melhores anos da sua vida. Que encontrará Vianne à sua espera em Lansquenet-sur-Tannes? Que fazer com os fantasmas e as desavenças do passado? Quanto tempo Vianne pode ficar longe de Paris e de Roux?

Tentei não pensar no que a Inès tinha dito. Uma criança vê uma avezinha a cair do ninho. Pega nela e leva-a para casa. Uma de duas coisas acontece a seguir. A avezinha bebé morre quase de imediato; ou sobrevive um ou dois dias e a criança leva-a de volta aos pais. Mas o cheiro a seres humanos está agora nela e a família rejeita-a. Morre à fome ou um gato mata-a ou as outras aves matam-na à bicada. Com sorte, a criança nunca saberá.
(extracto retirado da pág. 388)

Passados todos estes anos, não fosse a comunidade muçulmana instalada em Les Marauds, Vianne teria encontrado Lansquenet quase na mesma. As vidas dos habitantes desta pequena localidade pouco ou nada mudaram. As beatas continuam a frequentar a missa e a meterem-se na vida dos outros e alguns locais continuam a julgar e colocar de lado as pessoas de "fora".
Vianne está em Lansquenet  para ajudar o padre Francis Reynard a resolver os conflitos e problemas que a sua paróquia tem vindo a ter com a comunidade muçulmana. Habituada a combinar personalidade com chocolate, Vianne vai "intrometer-se" na vida das pessoas das duas comunidades e acaba por desvendar segredos familiares com graves consequências para ambas as comunidades.

Com esta viagem de regresso de Vianne Lansquenet, Joanne Harris aproveita não só para revisitar e acompanhar o crescimento de personagens que nos são familiares, tais como: Francis, Anouk, Josephine, Caroline, Luc, etc., mas também para levar-nos numa viagem aos mais incompreensíveis costumes e tradições das familias muçulmanas, representado nesta obra maioritariamente pelo período do ramadão, numa luta entre aqueles que tentam adaptar-se à idade moderna e os que preferem manter-se "agarrados" ao passado.

A escrita é simples, a leitura muito fluída e o enredo estimulante e viciante. A narração dos capítulos continua a ser alternada entre Vianne e Francis e, a meu ver, a autora conseguiu criar um enredo com algum suspense e um desfecho inesperado.
Apesar de não ter lido o segundo livro, Sapatos de Rebuçado, não senti que tivesse feito diferença para a presente leitura.
(4/5)

domingo, 30 de dezembro de 2012

Cafuné

Título original: Cafuné
Género: Romance
Autor: Mário Zambujal
Ano: 2012

Sinopse: Cafuné centra-se na figura de Rodrigo Favinhas Mendes, um bom malandro que não resiste aos encantos femininos e que se torna amigo de um ex-frade, Frei Urbino de Santiago, que acaba por ser o seu conselheiro e zelador espiritual. É que Rodrigo tem um coração gigante onde cabem muitas mulheres bonitas, dispostas a um carinho que ele é incapaz de recusar… (in Wook)

Frei Urbino Santiago é um frade, sujeito a uma educação religiosa muito feroz. Nos dias que correm, vive sozinho após ter abandonado o mosteiro. Rodrigo Favinhas Mendes é um jovem engatatão e que está constantemente a meter-se em sarilhos por causa das mulheres alheias com quem se mete. A fugir de um destes sarilhos, encontra o Frei que convida-o a viver com ele.
Rodrigo Favinhas Mendes não resiste a uma mulher, mas tem um objectivo bem traçado: quer trabalhar, nem que seja por uma semana, na corte da princesa Carlota. Até lá, mulheres como Dália ou Lucrécia farão as delícias do jovem.

- Você gosta mesmo?
- Se gosto? Essa festinha põe-me maluco!
- Cafuné. A gente chama de cafuné.
Rodrigo lembrou-se então das artes de Dália, mestra de cafuné, ignorando que fazia cafuné.
(extracto retirado da pág. 224)

Frei Urbino Santiago representa a castidade e a pureza, o tipo de homem que vira a cara quando vê um decote; Rodrigo Favinhas Mendes é o oposto, um rapaz sem vergonha que não só não tira os olhos do decote como chama a atenção dos outros.

Com a história de Portugal como pano de fundo, através do reinado de D.João IV e toda a sua fuga para o Brasil quando da chegada de Bonaparte, Zambujal tece as histórias de Frei Urbino, Rodrigo Favinhas, aias belas a atrevidas, reis, raínhas e princesas e mulatas brasileiras que também fazem cafuné, mas têm um nome para isso.

Num estilo semelhante ao Crónicas dos Bons Malandros, Zambujal conta não apenas a história de um Frei sem mosteiro e um jovem encantado pelas mulheres, mas também de um reino à beira do colapso e fá-lo através de uma narrativa simples, despretensiosa e cheia de humor.

Embora tenha gostado, continuo a preferir Crónicas dos Bons Malandros.
(3/5)

sábado, 29 de dezembro de 2012

O Vale das Bonecas

Título original: Valley of the Dolls
Género: Romance
Autor: Jacqueline Susann
Ano: 1966

Sinopse: Anne, Neely e Jennifer são três jovens fortes, independentes e com muita sede de viver. Mas quando os sonhos da vida se despenham contra os rochedos da desilusão , precisam de algumas «bonecas» -comprimidos calmantes, excitantes, ansiolíticos ou opiáceos - para sobreviver…
Anne: ingénua e doce, mas ansiosa por descobrir tudo o que a vida tem para oferecer… Neely: um espírito rebelde. Órfã desde a mais tenra idade, só ambiciona uma coisa na vida - rios de dinheiro! Jennifer: com um corpo de fazer parar o trânsito, este imã sexual só deseja uma coisa - casar e assentar.
Amor, traição, desejo e dependência são retratados em toda a sua crueza neste romance inesquecível, considerado um clássico da literatura norte-americana. (in Wook)

A peça O Céu é o Limite é a responsável por fazer com que o destino das três jovens, com personalidades e passados distintos, se cruzasse. A fugir de uma vida planeada por outros, a perseguir um sonho ou simplesmente à procura de uma vida melhor, Anne, Neely e Jennifer encontraram-se em New York, decorria o ano de 1945.
Menina do interior, Anne Welles deixou Lawrenceville e um casamento arranjado e trabalha agora numa agência que representa alguns dos actores mais famosos da BroadwayNeely O'Hara começa a dar os seus primeiros passos como actriz na Broadway, onde também trabalha a Jennifer North que tem em beleza o que não tem em talento.
A história de três jovens que se fizeram mulheres, em cena de 1945 a 1965.

Anne pegou novamente no guião. Dentro de poucos meses, ele falaria outra vez no assunto, e outra vez a conversa terminaria daquela maneira. Kevin sentia-se culpado por não casar com ela, mas Anne já não se incomodava com isso. Talvez já fosse tarde de mais para pensar em filhos. E um papel assinado não era garantia nenhuma de fidelidade nem de felicidade: bastava pensar em Jennifer. E na coitada da Neely. 
(extracto retirado da pág. 331)

Devido à janela temporal da história, estamos a falar de aproximadamente 20 anos, o leitor tem o privilégio de acompanhar o crescimento ou, muitas vezes, a falta dele, destas três mulheres e poder assim presenciar as várias fases das suas vidas. Do anonimato ao estrelato, as três passam de simples mulheres bonitas à conquista do sonho, a famosas desejáveis e cujas histórias fazem capas ou ocupam as páginas centrais dos jornais e revistas.

Jacqueline Susann criou em Anne, Neely e Jennifer, três mulheres fortes, capazes, apaixonadas, sensíveis e, ao mesmo tempo, frágeis e dependentes. As protagonistas são mulheres capazes de tudo para conquistarem aquilo que querem, mas que estão vulneráveis a dependências como o amor, através da entrega sem limites ao sexo oposto, a beleza, através das dietas e operações plásticas, e as drogas, como solução para esquecer os problemas por umas horas.

A escrita é simples e a leitura fluí naturalmente. Em cada capítulo uma das protagonistas assume o papel de narradora e conta a história no seu ponto de vista. A acção vai decorrendo ao longo dos anos, com passados e segredos a serem desvendados à medida que a narrativa avança.

Uma história doutros tempos, mas que pode muito bem ser aplicada aos dias actuais.
(4/5)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O Amante

Título original: L'Amant
Género: Romance
Autor: Marguerite Duras
Ano: 1984

Sinopse: Saigão, anos 30. Uma bela jovem francesa conhece o elegante filho de um negociante chinês. Deste encontro nasce uma paixão. Ela tem quinze anos e é pobre. Ele tem vinte e sete e é rico. Os amantes, isolados num mundo privado de erotismo e autodescoberta, desafiam as convenções da sociedade. Enquanto ela desperta para a possibilidade de traçar o seu próprio caminho no mundo, para o seu amante não há fuga possível. A separação é inevitável e tragicamente cadenciada pelos últimos acordes da presença colonial francesa a Oriente. A jovem é a própria autora e este é o relato exacerbado de uma paixão inquieta e dilacerante. De tão etérea, a sua realidade gravar-lhe-ia no rosto marcas implacáveis de maturidade. Para o mundo, fica uma obra que contém toda a vida. Obra intemporal, relato de um mundo perdido, O Amante foi vencedor do prestigiado Prémio Goncourt, em 1984, e confirmou o génio literário de Marguerite Duras, nome cimeiro da literatura mundial. (in Wook)

Membro de uma família de colonos falidos da Indochina francesa, a protagonista descobre, aos 15 anos de idade, a paixão e o sexo nos braços de um homem com o dobro da sua idade. Não desfazendo a enorme diferença de idade, este não era o único entrave a esta relação. O objecto da sua repentina paixão é chinês e abastado.
Uma relação que conta com a benção e provação da mãe da jovem, mas sujeita a ser vivida longe dos olhares alheios, tendo apenas espaço para acontecer dentro das quatro paredes do quarto de uma pensão.

Nunca bom dia, boa noite, bom ano. Nunca obrigado. Nunca falar. Nunca necessidade de falar. Tudo fica mudo, longe. É uma família de pedra, petrificada numa espessura sem qualquer acesso. Todos os dias tentamos matar-nos, matar. Não só não falamos como não nos olhamos. A partir do momento em que somos vistos, não podemos olhar. Olhar é ter um movimento de curiosidade para, por, é descer. Nenhuma pessoa olhada vale o olhar sobre ela.
(extracto retirado da pág. 60)

Autobiográfica e ficcional, o foco central deste livro é retratar a história de amor e sexo entre a autora, enquanto adolescente, e um homem mais velho. Para além do tema principal, Marguerite Duras ainda leva-nos a conhecer algumas particularidades da sua família, representada pela mãe e pelos dois irmãos. Com base numa dinâmica familiar estranha, o retrato de família mostra uma relação fria e distante, onde a mãe tende sempre em apoiar o filho mais velho em detrimento dos outros dois.

O livro tem poucas páginas, mas a leitura exige muita atenção devido aos sucessivos avanços e recuos na narrativa. A escrita é, de certa forma, poética, onde não faltam cenas fortes que retratam sentimentos como tristeza ou revolta, e uma boa dose de erotismo, através das cenas em que ela se entrega ao homem por quem está apaixonada e descobre o sexo, a sexualidade e os prazeres do corpo.

Uma leitura para ser saboreada com calma e muita atenção...
(4/5)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Deus das Pequenas Coisas

Título original: The God of Small Things
Género: Romance
Autor: Arundhati Roy
Ano: 1980

Sinopse: "O Deus das Pequenas Coisas" é a história de três gerações de uma família da região de Kerala, no sul da Índia, que se dispersa por todo o mundo e se reencontra na sua terra natal. Uma história feita de muitas histórias. A histórias dos gémeos Estha e Rahel, nascidos em 1962, por entre notícias de uma guerra perdida. A de sua mãe Ammu, que ama de noite o homem que os filhos amam de dia, e de Velutha, o intocável deus das pequenas coisas. A da avó Mammachi, a matriarca cujo corpo guarda cicatrizes da violência de Pappachi. A do tio Chacko, que anseia pela visita da ex-mulher inglesa, Margaret, e da filha de ambos, Sophie Mol. A da sua tia-avó mais nova, Baby Kochamma, resignada a adiar para a eternidade o seu amor terreno pelo Padre Mulligan. Estas são as pequenas histórias de uma família que vive numa época conturbada e de um país cuja essência parece eterna. Onde só as pequenas coisas são ditas e as grandes coisas permanecem por dizer. "O Deus das Pequenos Coisas" é uma apaixonante saga familiar que, pelos seus rasgos de realismo mágico, levou a crítica a comparar Arundhati Roy com Salmon Rushdie e García Márquez. (in Wook)

Estado de Kerala, Índia, durante os anos 60/70, numa altura em que alguns costumes europeus, como cinema ou forma de vestir, começam a misturar-se com costumes e tradições ancestrais, como o sistema de castas com os intocáveis na base da pirâmide e marginalizados pelos ditos "tocáveis".
Nesta história, encontramos três gerações da mesma família que vivem e convivem com esta sociedade que dá os primeiros passos para os novos tempos, mas ainda com uma ligação fortíssima aos velhos tempos.
As vivências e acontecimentos que acabam por entrelaçar a vida e o destino do núcleo central composto pelos gêmeos Estha e Rahel, a mãe Ammu, o amigo e intocável Velutha, a avó Mammachi, o tio Chacko, a prima Sophie Mol, a britânica Margaret e a tia-avó Baby Kochamma.

Ao contrário das práticas seguidas por multidões religiosas em alvoroço ou por exércitos conquistadores em tumulto, naquela manhã, no Coração das Trevas, o pelotão dos polícias Tocáveis actuou com economia e não frenesim. Eficiência, e não anarquia. Responsabilidade, e não histeria. Não lhe arrancaram o cabelo nem o queimaram vivo. Não lhe arrancaram os genitais nem lhos meteram na boca. Não o violaram. Nem decapitaram.
Afinal, não estavam a lutar contra uma epidemia. Estavam apenas a inocular uma comunidade para evitar um surto.
(extracto retirado da pág. 276)

No meio de uma sociedade cheia de tradições e diferentes modos de vida, o enredo fala de amores proibidos, através da peculiar e inexplicável ligação dos gêmeos Estha e Rahel, do relacionamento impossível entre um intocável e um tocável representado pelo amor de Velutha e Ammu, do eterno amor que a tia-avó Baby Kochamma escondeu toda a sua vida em relação ao Reverendo Mullingham ou da história de amor que não vingou entre o tio Chacko e sua britânica Margaret.

Um retrato real de uma sociedade onde podemos encontrar referências à religião, aos modos de vida de um povo que vive com as marginalizações sociais causadas pelas castas ou a violência perpetuada contras as mulheres devido ao seu estado civil ou à sua condição de ser obediente, sem no entanto esquecer o papel das fortes matriarcas que devido a desígnios do destino, como por exemplo a viúvez, acabam por tomar as rédeas das famílias.

Uma escrita onde não faltam figuras de estilo como a metáfora ou a personificação, mas também cheio de frase e pensamentos para reflexão. Se por um lado compreendo que se queira comparar a escrita de Roy com García Márquez, devido ao  realismo mágico, por outro, acho que as semelhanças tendem a ficar por aí.
Não consegui simpatizar com a escrita de Arundhati Roy e foram muitas as vezes que dei por mim a pensar que ela estava a ser muito pretensiosa e a cair, vezes sem conta, no exagero exacerbado e despropositado.

Um livro para ser lido sem ideias pré-concebidas.
(3/5)

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