domingo, 13 de abril de 2014

Matilde: as primeiras vezes

Depois de nascerem (e passarem por aqueles passos todos até ao internamento), passam a ser responsabilidade nossa. Nós, estreantes na lide de objectos frágeis, pequeninos e importantes, accionámos, automaticamente, o modo pânico. O lado racional manda-nos pensar que o pessoal do hospital está a um toque da campainha de distância, mas há aquela vozinha que insiste em sussurrar coisas como: e se eu adormecer e nao der por nada?, e se não ouvirem a campainha?, e se demorarem a chegar?, como saberei que ela tem fome?, e se o choro é por causa de dores, etc.
No entanto, como a vida vive-se vivendo, é hora de tomarmos as rédeas da viagem, aprendermos com as descobertas e experiências (umas mais agradáveis que outras) e, em caso de dúvida, usarmos como base o nosso instinto.

Amamentação
Quando ouvi a enfermeira dizer que a menina não parava de chorar porque tinha fome (ver post Matilde: o nascimento), olhei para as minhas mamas e não consegui visualizar-me a ser fonte de comida para a minha filha (sei que parece mentira, mas ainda não tinha pensado nisso de ter leite assim que ela nascesse). As minhas mamas continuavam iguais ao dia anterior ou mesmo à semana anterior. Onde estaria o leite? Apesar disso, não fui a medo. Quando olhei para a minha filha a chorar, entreguei-me ao momento. Não pensei em dores ou no facto de não saber como se faz. Tirei a mama para fora para saciar a fome dela. Um momento altruísta (nada contra as mães que optam por não dar de mamar) e centrado, exclusivamente, nas necessidades dela. Mamou e mamou bem. A banda sonora do quarto passou do choro ao mais reconfortante barulho de um recém-nascido a comer (glug, glug, glug). Afinal havia leite (colostro).

Banho
O primeiro banho é "ministrado" pelas enfermeiras, connosco a assistir, numa espécie de aula de preparação para o teste. O próximo banho é responsabilidade nossa. MEDO!!. Eu, drogada até à ponta dos cabelos, vou apanhando algumas das coisas que estão a descrever enquanto fazem: banheira tem de estar com este sinal verde que indica que está desinfectada, gancho estilo tesoura para pegar bebé, lavar a cara com algodão molhado, o pipi é o último a ser lavado, vira-se o bebé assim (uh, WTF???), etc. Parece tudo tão complicado. Será que os bebés precisam mesmo de banho??
Chegou a nossa vez. Roupinha preparada, toalha, fralda, bebé e começa a aventura. Entrámos a medo na salinha que estava vazia. A sensação é que vamos fazer aquele exame que irá decidir o sucesso ou fracasso do ano escolar. A matéria foi estudada, mas de repente começamos a questionar se ouvimos tudo na aula de preparação. Banheira desinfectada: check. Criança nua. Água à temperatura esperada. Cara lavada. Gancho. Cabeça lavada. Corpo lavado. Hora de virar. Como é que era mesmo aquela forma de virar? Esquece, vira-se assim. Costas lavadas. Pipi lavado. Secar. Vestir. Respirar de alívio. Sobrevivemos ao primeiro banho sem acontecer nada de mal à cria.

Susto
Naquela de ver se estávamos mesmos preparados para assumir a responsabilidade de zelar pelo seu bem estar, a nossa filha resolve, ao 2º dia de vida, pregar-nos um grande susto. Estou meio deitada meio sentada na cama, o esposo no lado direito e o berço da Matilde no lado esquerdo. Conversávamos sobre qualquer coisa que agora não me lembro. De repente, o esposo aponta para o berço com um ar assustadíssimo. Virei a cara e dei com uma filha agitada, com dificuldade em respirar e a ficar com a cara escura. Enquanto alcanço a campaínha, o esposo dá à volta, pega-a ao colo, coloca-a meio de lado e ela começa a ganhar cor na cara. Eu e o esposo nem por isso. Chega a auxiliar. Agarra nela. Aperta-lhe a barriga e começa a sair-lhe uma espuma branca pela boca. Passado uns minutos ela fica bem. Nós é que nem por isso.

Sorriso
Involuntário ou não (há quem diga que os primeiros sorrisos são apenas contracções da cara), a primeira vez que a Matilde rasgou um sorriso entrou para a lista de momentos mais giros e surreais da minha vida.

Dias em casa
Fartos de estar naquele ambiente hospitalar, é impossível esconder o sorriso quando anunciam que estão a assinar a nossa alta. Uns milésimos de segundos depois caímos em nós e apetece perguntar se podem dispensar 2 estagiárias, 1 enfermeira e 1 auxiliar para levarmos para casa, caso seja preciso alguma coisa. Das 23526478 coisas que achamos que podem correr mal, mete mais medo aquela ideia de não saber tratar bem dela, não saber interpretar os choros, não ser capaz de prestar-lhe os primeiros socorros, etc.
Na primeira noite tentámos deitá-la no berço, mas acabou por passar a maior parte do tempo na cama comigo a mamar ou a mimar. Nos dias seguintes dormiu na alcofa, bem mais aconchegadinha e de onde só saiu depois dos 2 meses.

Fim de semana fora
Com um mês e dois dias (depois da consulta de 1 mês em que o pediatra assegurou que estava tudo bem com a cachopa), resolvemos ir passar o fim de semana à casa dos avós. Maior que a trabalheira de organizar toda a logística para sair de casa com um recém-nascido, é o receio que não se adapte bem ao local ou que passe os dias e as noites a chorar. Foi uma experiência tranquila com todos a adorarem a menina. O fim de semana acabou por não ser interrompido a meio.

Assim vamos vivendo um dia de cada vez e a aproveitar o máximo as experiências e as descobertas que daqui a nada é altura de voltar para o trabalho.

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