segunda-feira, 24 de setembro de 2012

"Hora de bai, hora de dor"

Revi-me em cada uma daquelas três carinhas tristes e olhos vermelhos. Também já uma vez fui "arrancada" da única casa que conhecia. No dia 22 de Setembro de 2012 revivi, sentada na primeira fila, o meu 3 de Novembro de 1999.
Entre o checkin e a chamada para a sala de embarque, a balança da partida tem nos dois lados a mesma carga emotiva e assustadora. De um lado, coloca-se o sofrimento de deixar para trás o conhecido: família, amigos, pessoa amada, casa e lugares, ou seja, tudo e todos que fazem de nós quem somos. Do outro, está o partir ao encontro do desconhecido: novo país, nova língua, nova cultura, novos (des)conhecidos, novas experiências, ou seja, toda uma nova vida.

Tal como não foi fácil para mim e outros tantos da minha geração, também não irá ser fácil para as três meninas que davam o primeiro passo para uma nova etapa das suas vidas. Sim, posso desde já confirmar que tudo aquilo que ouviram falar ou imaginam é verdade.

As saudades vão massacrar e muito. O Natal deixar-vos-á com um nó na garganta. O medo de falhar ou não estar à altura das expectativas estará sempre presente. Passarão horas fechadas nos quartos a olhar para as fotografias. A sombra da solidão pairará mesmo quando estiverem no meio de multidões. Passarão por momentos tristes e sofridos. Chorarão. Chorarão muito se forem como eu.

Disse difícil, mas não impossível.

Conhecerão pessoas fantásticas e insubstituíveis. Viverão experiências únicas. As conquistas serão vossas. Crescerão muito. Algumas de vós pode até apaixonar-se e viver um grande amor. Superar-se-ão todos os dias. Viverão momentos de muita felicidade. Contarão os dias para as férias que saberão a pouco, mas vão tornando as despedidas menos dolorosas. Terão oportunidade de conhecer lugares novos. Farão novas amizades. Primeiro chegarão os sorrisos, depois os risos e finalmente as gargalhadas. Muitas gargalhadas se forem como eu.

Esta que já passou pelas mesmas tormentas e recompensas, deixa-vos aqui um conselho: carreguem sempre convosco estas palavras de Engénio Tavares: "Se bem é doce, bai é maguado/ mas, se ca bado, ca ta birado" porque são os sorrisos rasgados e os abraços apertados de quem nos espera à chegada que fazem as lágrimas da partida menos amargas e os dias da estadia mais suportáveis.

Seja a primeira, a sétima ou a vigéssima nona despedida, há sempre uma parte de nós que fica "agarrada" à terra e se recusa a partir, mesmo quando as portas do avião se fecham e somos levados para centenas de quilómetros de distância.

3 Comentário(s):

Luís Manuel de Sousa Peixeira 11:16 da manhã, outubro 03, 2012  

Lido - Tive tanta vontade de voltar a Eugénio Tavares e a Gabriel Mariano

Luís Urgais

Luís Manuel de Sousa Peixeira 11:17 da manhã, outubro 03, 2012  

Lindo! Tive tanta vontade de reler Eugénio Tavares e Gabriel Mariano

Mary 11:49 da manhã, outubro 03, 2012  

Luís Urgais, muito obrigada pelo comentário, elogio e visita.
:-)

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