quinta-feira, 12 de julho de 2012

Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas

Título original: Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas
Género: Romance
Autor: Ricardo Adolfo
Ano: 2009

Sinopse: Brito é imigrante ilegal numa cidade que não conhece e cuja língua não fala. Um domingo à tarde, depois da volta das montras, perde-se a caminho de casa com a mulher e o filho pequeno. E como acredita que para tomar uma decisão acertada tem de fazer o contrário daquilo que acha que está correcto, o regresso a casa revela-se impossível. Depois de uma noite na rua, Brito percebe que se não pedir ajuda pode ficar perdido para sempre, mas se o fizer pode arruinar o sonho de uma vida nova.
Em pouco mais de vinte e quatro horas, Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas explora o que é viver imigrado dentro de si mesmo - mais difícil do que qualquer exílio. (in Wook)

Como muitos outros casais à procura de melhores condições de vida, Brito e Carla deixaram a sua "terrinha" e partiram com o filho para um futuro incerto e cheio de obstáculos. A situação de ilegalidade que vivem, o facto de não compreenderem a língua ou a dificuldade em arranjarem trabalho são apenas alguns dos problemas que o casal enfrenta todos os dias.
Um simples passeio familiar mudará a vida de Brito e carla. Depois de perder o caminho de casa, o casal têm em mãos o pior dos dilemas: continuar perdido para sempre ou arriscar um pedido de ajuda que pode levá-los de novo à estaca zero.

A Carla não gostava de ruas vazias e dava-lhe para apertar o passo. Eu por acaso preferia. Sentia-me menos mal. A ausência de pessoas fazia com que não passasse por alguém que não olhasse para mim, como acontecia todos os dias. Um dia, sozinho, a caminho de casa, deixei-me ir contra um poste só para me certificar de que estava mesmo lá, para ter a certeza de que eu não era uma imaginação minha. Existia, segundo o poste, e nunca cheguei a perceber porque é que ninguém me via.
(extracto retirado da pág. 119)

Com muito humor e situações, muitas vezes levadas ao extremo, Ricardo Adolfo serve-se das vidas de Brito e Carla para retratar as vivências e principais dificuldades dos emigrantes ilegais e não só. O facto de passarem despercebidos no país de acolhimento e de viverem sempre com medo de serem apanhados, transformam-nos em pessoas invíveis, sem voz e a viverem nas suas próprias bolhas, na medida que não estão/sentem-se integrados, têm problemas em comunicar e sabem que o menor deslize pode significar o fim de tudo.

Cruel é talvez o melhor adjectivo para descrever esta história. Adolfo constrói um enredo surpreendente, emocionante, triste, cativante, sofrido e cheio de injustiças. A escrita é simples, inteligente e temperado com inúmeras situações cómicas que acabam por servir de bálsamo às desgraças.

Como emigrante, embora uma que não tenha vivido, nem de perto, os problemas do casal da história, acompanhei o sofrimento deles e com uma sensação de proximidade e um sentimento de cumplicidade que só quem vive longe da sua "terrinha" é capaz de sentir.

Uma leitura obrigatória para os que partem, mas também para os que recebem...
(4/5)

4 Comentário(s):

P 10:05 da manhã, julho 13, 2012  

Gosto de ver que as minhas sugestões de leitura também tocam outros.

o teu elogio sincero ao livro é sincero. Parabéns. ;)

Mary 10:09 da manhã, julho 13, 2012  

Patxi, obrigada eu pela sugestão e pelo elogio.
:-)

Lemon 10:36 da manhã, julho 13, 2012  

Fiquei muito curiosa :D

Mary 11:08 da manhã, julho 13, 2012  

Lemon, vale mesmo a pena. São poucas páginas, mas muito intensas.
Espero que tenhas oportunidade de ler e que gostes :-)

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